quinta-feira, 7 de abril de 2011

Filho Único

Há apenas 30 anos, as mulheres tinham de dois a três filhos. De uma geração para outra, passaram a ter apenas um. E vão descobrindo, na prática e sem manual, o melhor jeito de educar crianças sem irmãos, ensinando conceitos como a importância de se dividir. Conheça os erros e acertos mais comuns

O Brasil já se tornou uma nação de filhos únicos, a exemplo do que ocorre na Itália, Espanha e França, entre outros países. Números divulgados pelo IBGE no fim de 2008 revelaram que a média de filhos das famílias brasileiras já é de 1,8, seguindo uma tendência mundial, motivada geralmente pela falta de tempo (ou de dinheiro) para criar mais filhos. Entre as mães de 30 a 45 anos, várias pararam no primeiro filho porque se divorciaram, mas um grande contingente de casadas fez uma opção clara. Como Danielly Moya, 30 anos, mãe de Bruna, 5. Eu até planejei um casal, mas minha primeira gravidez foi difícil: engordei 20 quilos, tive hipoglicemia e depois do parto sofri uma crise de pânico. Não quero passar por tudo isso de novo, e minha filha não quer irmão.” Ex-modelo, Danielly hoje vende semijoias e administra a carreira da filha, modelo fotográfico. Bruna desfruta do bom e do melhor e desde pequena estuda em uma cara escola americana. “Preferimos dar tudo para um só do que dividir por dois.”
O argumento de dar do bom e do melhor para o filho é uma espécie de mantra dos atuais pais de filho único. Mas esse raciocínio é traiçoeiro, alerta a psicóloga e terapeuta familiar Lidia Aratangy, de São Paulo. “O desejo é ilimitado”, lembra ela. “Pais que têm o projeto de dar tudo, exceto um irmão, estão negando a única coisa que somente eles poderiam oferecer à criança. Um irmão pode ensinar uma lição preciosa: que o ódio mais intenso não mata o amor. No dia seguinte à briga, os irmãos já estão de mãos dadas. Esse aprendizado é fundamental para a vida”, completa Lidia. Como cada vez mais famílias engrossam as estatísticas do filho único, porém, uma geração de crianças terá que aprender lições de civilidade e partilha de outra maneira – e esse aprendizado está a todo vapor, na prática, todos os dias. “Se é para ter um filho só, tem que criar direito”, acredita a bióloga Ana Paula Lepique, 37 anos, mãe de Alice, 14. A garota nasceu quando Ana e o marido, André, engenheiro químico, terminavam a faculdade. Depois veio o mestrado, o doutorado, o pós-doutorado em Nova York... E ninguém sentiu falta de aumentar a família. “Minha política sempre foi estar muito presente na vida de Alice”, explica a mãe. “Vamos a todos os eventos escolares, falto ao trabalho quando ela adoece, largo o que for se minha garota precisa de mim. Eu a considero uma jovem segura e independente, capaz de organizar a própria agenda, que inclui aulas de inglês, jogos de handebol, natação e uma banda de rock.”
Está aí outra tendência dos pais de filho único: organizer para a criança uma vida repleta de eventos na tentativa de afastar uma pressentida solidão. “A criança acaba fazendo tanta coisa que não tem tempo para o que é básico: brincar”, alerta o psiquiatra Edson Engels, de São Paulo, observando que esse comportamento afeta também famílias com mais filhos. “Essa sobrecarga pode ainda gerar pessoas com alto grau de inteligência racional e pobres em inteligência emocional.”A psicóloga Lidia completa: é importante levar em conta as preferências da criança, deixando de lado os próprios sentimentos. Vale também estimular a opção por esportes coletivos, que ensinam a trabalhar em equipe e ajudam a criar laços fraternos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário